terça-feira, 28 de setembro de 2010

ACONTECIDO

Como quem se banhasse
no mesmo rio
de águas repetidas,
outra vez era setembro
e o amor tão novo.
Iguais, teu hálito mascavo,
a minha mão inquieta.
Novamente o quarto,
a praça vista da janela,
teu peito.
Depois eu era só — vê —
sob a chuva miúda daquele dia.

Eucanaã Ferraz

Impressões de chegada: jornalismo cultural nos tempos de clicks

Há algum tempo pretendia escrever algo sobre jornalismo cultural, o jornalismo que mais me interessa. A maioria das pessoas que freqüenta esse blog sabe que eu ganho a vida escrevendo textos para assessoria de imprensa. Não era o que eu pensava que estaria fazendo com 27 anos, mas essa é outra história.

Li no blog do Jotabê Medeiros, um dos poucos jornalistas que admiro, algumas reflexões e também resolvi elencar as minhas impressões sobre o tema.

1- Grandes reportagens quase inexistem nos grandes veículos. Misturam alhos com bugalhos e se limitam a cortejar grandes companhias de teatro, atores globais, difundir uma ou outra invencionice sazonal e publicar resenhas de best-sellers. Muito pouco, convenhamos.

2- Há uma onda neoconservadora quase paralisante no setor. Em todos os canais. E na internet, onde ainda existe alguma coisa interessante, também cresce essa onda. O “perfil médio do internauta” é o sinal dos tempos.

3- É preciso que haja diferença entre o que é publicidade e o que é jornalismo. Porra, é o básico. O jornalista tem que ser independente. O máximo possível. Inclusive do próprio patrão. Tem que ser o primeiro a ser crítico em relação ao próprio jornalismo.

4- Ainda que eu entenda a birra e a briga de jornalistas no que tange à questão do diploma para exercer a profissão, não dá para simplesmente ignorar o fato de que talento não respeita fronteiras disciplinares. Aliás, bons escritores e jornalistas também não deveriam (e não o fazem) respeitar muito essa geografia.

5- O quinto apontamento do Jotabê foi tão pertinente, que vou reproduzi-lo aqui, na íntegra: “há muita jequice ainda no tratamento à cultura, reverência à "alta cultura", à música orquestral, ao pintor consagrado, e tratamento de excentricidade à cultura popular, pop e jovem, ao grafite; geralmente, é comportamento de jornalista paraquedista, não é da área, nunca ouviu falar em basquiat, em banksy, em the streets, em patativa do assaré”. Perfeito.

6- Há muita afetação, mitificação, endeusamento no tratamento aos medalhões. Há muito jornalista que acha que vive num mundo à parte.

7- Há também muita teorização estéril. Como diz um amigo meu, da área de literatura, “tem gente que lê tudo quanto é crítica sobre determinado autor, mas esquece de ler a obra literária do cara”. Mais ou menos por aí.

8- E, para não deixar de falar sobre “jornalismo” no interior, uma constatação óbvia: simplesmente não existe jornalismo cultural aqui na região. Em Guaíra, então...não preciso nem falar.