segunda-feira, 14 de maio de 2012

Em português


Um dos grandes aprendizados para quem trabalha com as palavras é o de que não existem sinônimos. Assim, quem estuda línguas sabe que a tradução é alguma espécie de arte da compreensão. A gente precisa aprender a pensar na língua em questão. Tive uma professora de espanhol na faculdade que, como eu, era descendente de paraguaios. Certa vez, ela foi ao médico e ao ser indagada sobre o que sentia, respondeu: "Doutor, o que eu sinto só consigo dizer em guarani". Entendi na hora o que ela passou. Têm coisas que só podem ser exatas em sua língua materna.

Há quem diga que ninguém fala de saudade como os portugueses, do mesmo jeito que ninguém se expressa melhor que os latinos quando o assunto é amor. Existe língua melhor que o alemão quando entramos numa boa briga? Brincadeiras e impressões à parte, há emoções que parecem mais bem representadas em determinadas linguagens. Existem sentimentos, por exemplo, que só o rock sabe exprimir, assim como há dores que doem muito mais em sambas e blues se comparados a outros ritmos.

É consenso que podemos nos comunicar com Deus em qualquer idioma, embora os católicos não abram mão de suas missas em latim e os muçulmanos incentivem a leitura do Alcorão em árabe, sob a justificativa - lógica - de que a língua original possui nuanças impossíveis de serem perfeitamente traduzidas.

Isso tudo é discutível, claro que é. Mas uma coisa é certa: certas belezas só mesmo a poesia pode traduzir com fidelidade. Em qualquer língua.