quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Das coisas que também me interessam

 Me interessa o jeito que as pessoas falam. As prosódias e as sintaxes. A cara de medo de quem chega tarde. E a cara de pau de quem faz alarde. Me interessa o argumento do impostor. O discurso impecável do doutor. E a maneira falsa do original que nunca se desoriginaliza.

Me interessa o que as pessoas pensam, como agem, o que fazem. E também o que esquecem, o que deixam, o que não fazem.

Me interessam os palavrões da porra, caralho! A fronteira entre o explícito e o ato falho. A norma culta do advogado, e o som estranho quando você fala rindo.  O porte solene do padre. O perfil expansivo do pastor. Me interessa a frase toda e o subentendido.

Me interessa a algaravia. Charlanda, charangas, migué, kaô, lábia. As verborragias, as verves, as diarréias mentais. O silêncio dos gatos caçando pardais. Barulho de guitarra, bateria, metais.

Me interessa a palavra bruta que brande e bate. O balbucio que acaricia. O rimbambar de consoantes e vogais no megafone. A voz rouca da amante ao telefone. Até mesmo o tom rude dos generais.

Me interessam o assovio do picolezeiro e o apito do guarda noturno. A voz do preto, do branco, do índio. O código Morse, os dialetos, o espanhol argentino. Me interessa o sotaque goshmeinto do carioca. E o modo arrétado do nordestino. Me interessa palavras estranhas como aluvião, sucurujiba e onomástica. Me interessam as epístolas e as frases escritas em papéis de bala. A palavra amor e a palavra mala. O significado e o (in)significante. Eu, você, o hoje e o antes. Amanhã é depois, mais além, adiante.

Me interessa o sorriso, o escárnio e até o seu pouco caso. Na verdade, é impagável a sua cara de quem perdeu tempo lendo minhas baboseiras no feicibuqui.

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