Em português
Um dos
grandes aprendizados para quem trabalha com as palavras é o de que não existem
sinônimos. Assim, quem estuda línguas sabe que a tradução é alguma espécie de
arte da compreensão. A gente precisa aprender a pensar na língua em questão.
Tive uma professora de espanhol na faculdade que, como eu, era descendente de
paraguaios. Certa vez, ela foi ao médico e ao ser indagada sobre o que sentia,
respondeu: "Doutor, o que eu sinto só consigo dizer em guarani". Entendi
na hora o que ela passou. Têm coisas que só podem ser exatas em sua língua
materna.
Há quem
diga que ninguém fala de saudade como os portugueses, do mesmo jeito que
ninguém se expressa melhor que os latinos quando o assunto é amor. Existe
língua melhor que o alemão quando entramos numa boa briga? Brincadeiras e impressões
à parte, há emoções que parecem mais bem representadas em determinadas
linguagens. Existem sentimentos, por exemplo, que só o rock sabe exprimir, assim como há dores que doem muito mais em
sambas e blues se comparados a outros ritmos.
É consenso que podemos nos comunicar com Deus em qualquer idioma, embora os católicos não
abram mão de suas missas em latim e os muçulmanos incentivem a leitura do Alcorão
em árabe, sob a justificativa - lógica - de que a língua original possui nuanças impossíveis de serem perfeitamente traduzidas.
Isso tudo é
discutível, claro que é. Mas uma coisa é certa: certas belezas só mesmo a
poesia pode traduzir com fidelidade. Em qualquer língua.
2 Comentários:
Achei bem interessante o texto : ). Nossa tensão com as línguas não se dá somente pelo fato se sabemos a língua de fato ou não. Mas vai muito além.
Traduções são sempre "gloomy". Como diria isso em português? rs.
Boa pergunta!
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