quarta-feira, 4 de agosto de 2010

No retrovisor


Em 2002 eu era apenas um garoto sem dinheiro no bolso e com alguma idéia na cabeça.
Eu havia tentado ir embora de Guaíra,como é comum por aqui, e ancorei lá no cais de Itajaí/SC acompanhado do meu amigo Raoni Martins. Lembro-me de como estranhei meu novo ninho e de como andava pela cidade atrás de algo que me fosse familiar. Familiar. Engraçado isso, logo eu que havia deixado para trás a minha família e achava que era solitário (e cosmopolita) demais para pensar ou me apegar a essas coisas. Enquanto gastava dinheiro com meu amigo de nome indígena nos bares da vida, ensaiava planos para um futuro não muito distante: arrumar emprego, prestar vestibular para jornalismo na Univali e preparar um livro.

Na época, estava embalado pelos versos certeiros de Waly Salomão na memorável música de Jards Macalé, intitulada Vapor Barato, “eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus (...) Ó, minha honey baby, baby”. O tempo passou, o dinheiro acabou e a saudade bateu: O jeito era voltar para Guaíra.

E voltei sem emprego, sem vestibular e sem um verso que prestasse para fazer um livro. Mas eu ainda tinha sonhos e foi essa a força motriz para a criação Sarau Personalidades, um grupo cultural que reuniu algumas das melhores cabeças da cidade. O Sarau foi uma espécie de catalisador do efervescente momento que vivíamos, e ter reunido aquele time ainda hoje me orgulha muito. Confesso que quando eu e o Diego Prado fundamos o grupo não tínhamos noção de como fazer um sarau (palavra que naquele momento ainda não estava na moda), do que queríamos ao certo com o grupo e principalmente não tínhamos idéia da repercussão que isso iria causar naquele (já) longínquo ano de 2002. O que sei é que começamos a nos reunir, a conversar e a conhecer melhor outras pessoas que, como nós, se interessavam por música e poesia. Fiz grandes amigos dentro do Sarau. Aprendi muita coisa. E foi lá dentro que resolvi estudar mais, conhecer melhor o universo da poesia contemporânea, de modo que prestei vestibular para o curso de letras na Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

Foi importante conviver numa universidade, embora eu jamais tenha encontrado lá dentro o que eu esperava (e idealizava). Ao invés de alunos apaixonados, encontrei muitos universitários que só queriam um diploma e um bom emprego - e eu, como já disse, estava meio que na contramão disso tudo. De qualquer forma, pude participar de bons debates, aprender bastante coisa, militar no movimento estudantil (cada vez mais capenga) e, principalmente, pude continuar sonhando (embora as decepções – e isso não é necessariamente ruim –fossem, uma a uma, abatendo certas ingenuidades).
Enquanto isso, a turma que se reunia no Sarau continuava incendiando o verbo nos finais de semana. Na época, eu me inspirava muito na história da Nuvem Cigana e prestava muita atenção no CEP 20 000, históricos símbolos da militância poética brasileira.

O que ainda hoje não entendo - e estranho - é quando me perguntam o que a gente ganhou com isso. É difícil explicar para pessoas que já denotam em suas perguntas o que pensam da vida (e do grupo) o que o “grupo” (digamos assim) representou. Quer saber, acho que na verdade o legal foi que não ganhamos nada. Era importante estar ali só por tesão. Assim, no duro. E isso está em extinção. Somos animais em extinção.

Difícil saber quando foi que a coisa desandou, mas isso já não me preocupa mais. O importante é que foi bom pra caralho - e agora, quando olho pelo retrovisor, o que vejo me agrada.

A vida segue com outros desafios, embora eu continue sem dinheiro no bolso e com uma ou outra idéia na cabeça de vez em quando. Mas nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, não é mesmo?

Melhor assim.

9 Comentários:

Blogger Teacher Pati disse...

Cristian Cristian
Não é que é ocê mesmo!Com a camiseta vemelha,isso também era Sarau.
Sabe que esse retrovisor me deixa bem também. E acho que a todos que participaram
Olha! eu nem sabia que o Diego era um dos fundadores.

veredas...

6 de agosto de 2010 às 12:25  
Blogger Cristian Aguazo disse...

A vermelhinha era referência mesmo. Pra você vê como as coisa mudam, Paty, este sou eu há oito anos.
Entre (re)descobertas e reencontros, veredas!

6 de agosto de 2010 às 12:39  
Blogger Tiago Tsuneto disse...

Meu amigo Cristian, digo a você que ganhei muito, com o Sarau. O que foi que ganhei, acho que na verdade só nós mesmos que sabemos. Quem estava lá. Não participei da fundação mas fui em algumas reuniões. Aquelas reuniões e aqueles finais de semanas foram os melhores da minha vida.

9 de agosto de 2010 às 15:55  
Blogger Tiago Tsuneto disse...

Jornal=Tiago Tsuneto.

Lembranças do Sarau.
*Um Monte de amigos de verdade, que apesar da distância vivem em nossos corações.
*4 festivais que impulsionaram uma galera a fazer um som. (Isso não tem preço)
*Muitas conversas, com pessoas que realmente sabiam o que falavam.
*Muitos lanches no "gordinho" do Scobydoo Lanches. (ajudamos uma empresa a se manter nos negocios, rsrsr)
* E acima de tudo boas lembranças

9 de agosto de 2010 às 16:01  
Blogger Tiago Tsuneto disse...

Só pra constar, teu bloge está muito massa. Os textos muito bons, de um jeito que só vc sabe escrever. Quando eu crescer só espero, um dia, poder escrever como você.

Ah! Desculpas por não ter postado nada antes, é que vc sabe não sou muito fã de contas da gooogle, como por exemplo, Orkut, twuiter e etc.
Já me perco com um unico email, imagina dois, três.

Mas enfim, minhas sinceras desculpas.

9 de agosto de 2010 às 16:06  
Blogger Cristian Aguazo disse...

Meu caro amigo Tiago, obrigado pelos comentários, você é sempre bem-vindo.
Acho que nós sabemos o que o grupo representou. Saiba que sua participação foi muito valiosa. Nossa amizade é fruto disso.
Obrigado pelos elogios, sei que vindos de você eu posso confiar.
Apareça sempre!

10 de agosto de 2010 às 08:47  
Blogger DOM disse...

Rapaz, nem me lembre!
E ha tb conversas mais antigas, la de 1997 ate 2002, de quando a gente ainda jogava bola (to voltando), passavamos alguns recreios escrevendo e compondo, vagavamos pelas ruas da cidade descobrindo varios lugares e paisagens bacanas, batendo ponto nas marinas e tomando refrigerantes na porta do Boticario ate altas horas. Entre essas conversas queriamos alugar um lugar para podermos escutar nossa musica e escrevermos em paz, longe da perturbaçao que era ficar em casa...
Saudades...

4 de setembro de 2010 às 08:17  
Blogger Cristian Aguazo disse...

Dom, sobre essas conversas mais antigas ainda pretendo escrever algo.
Abraço, velho amigo!

8 de setembro de 2010 às 14:06  
Blogger Unknown disse...

O Tiagão tem uma camiseta vermelha igual essa.. hauishoauhsoas_ cabelo estiloso

5 de outubro de 2010 às 12:12  

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