terça-feira, 27 de abril de 2010

Não há exclusivismo, mas existem peculiaridades

Tem gente que se acha único no mundo. Entendo que temos mesmo um grande talento para a solidão e que ficar sozinho é o nosso destino final. Mas não é disso que estou falando. Tô falando de gente que acha que suas dores são “únicas” e que ninguém nunca vai entendê-los. Noel Gallagher chama essa gente de “coxinhas” ou de “babacas tristinhos”. OK, ok. Claro que ninguém sabe o que se passa dentro do coração de um homem ou de uma mulher. O que sei é que o ser humano é feito da mesma substância e que as possibilidades da vida não são tão grandes assim. O que eu quero dizer - e agora acho que todos vão entender - é que às vezes , de repente, quando você fica sozinho debaixo de uma árvore, esperando o ônibus no ponto, ou a carona que vai te levar pra casa - ou ainda dentro de um quarto escuro, antes de dormir - você pensa na vida. E repensa. E você fica triste. É quando o vento (esse personagem tão triste de Érico Veríssimo em O Tempo e o Vento) fustiga a sua janela e o frio esmurra a porta da sua casa. É quando um sonho te deixa pensativo pelo resto do dia. É quando você se desliga do mundo sentado num balcão de bar, mesmo estando acompanhado dos sempre velhos e bons amigos. Uma hora você fica down e isso é normal.Ou não acontece contigo, cara pálida?
Pois é, somos mais ou menos assim. Sofrer é inevitável, meu chapa.
Eu ando assim, introspectivo, já há algum tempo. Ah, a "nostalgia clássica". Pois é.
Quando você fica meio borocochô, você tem os seus motivos. O que não impede que ele seja aproximado ao de outras pessoas. Eu, pra ser sincero, ando lembrando muito das pessoas que me fazem falta (meio óbvio, não?). Minha vó, por exemplo. Acho que convivi pouco com ela (pouco = a vida inteira). Sabe o que é conviver 26 anos perto de alguém que morreu no cume de seus 93 anos? Não é nada. Vivi pouco. Mas ao lado dela esse foi um fragmento de tempo memorável. Inesquecível. Lembro muito bem das suas broncas (ela era muito passional, paraguaia das bravas). Mas do alto de toda a sua simplicidade ela era capaz de também nos fazer rir, embora não estivesse aqui para brincadeiras. Aliás, ela não gostava de brincadeiras (teve uma vida muito dura para se dar ao luxo de ficar sorrindo à toa). Mas há passagens já lendárias: Certa vez o carroceiro que entregava leite em casa (eu moro em Guaíra, bicho!) comentou com minha vó um iminente reajuste no preço do leite. Minha vó ponderou: “mas como assim?”. E ele tentou explicar: “Pois é, Dona Nena, a senhora pode reparar, está tudo subindo; o pão, a farinha de trigo, a gasolina”... no que foi prontamente interrompido: “Ê, e por acaso su vaca bebe gasolina?”. Disse isso com aquele o sotaque espanholado inconfundível. Histórias de família.
Não sei por que, mas lembrar disso me deixa triste. E feliz também. Acho que começo a compreender. Afinal, a saudade, essa herança lusitana, é assim mesmo. Você conta uma piada e chora.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Texto para ensaiar uma volta

Devagar, devagar. Vou tentar divagar sobre esse tempo de absoluto silêncio no blog. Vou tentar ensaiar uma volta e tentar não correr novos riscos. Vou procurar repensar em tudo que fiz e também no que deixei de fazer. E aí vou ser obrigado a dizer que nesse tempo de ausência eu sempre pensei “em voltar”. E vou ter que concordar que essa é apenas uma das verdades. O fato é que fiquei muito tempo parado. Fiquei a ver navios. À deriva. Sem vontade. Fiquei cortando pregos, pregando peças, pagando promessas, fazendo juras enternecidas em sábados já perdidos pra memória. Fiquei repetindo feito besta aquelas pretensas frases de efeito que provavelmente já se esgotaram. Fiquei baixando rótulos , chutando tampas e copiando as finas estampas que, sei lá, acho que já nem servem mais em mim.
Nesse tempo que fiquei ausente, esperei pela chuva que não veio e que quando veio simplesmente não agradou. Mas passou. Esse tempo já passou.